quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A primeira colina de Lisboa (II)




LISBOA - A PRIMEIRA COLINA DE LISBOA

O roteiro promovido por “Conta-me histórias, Lisboa” (ver AQUI) consistiu numa visita guiada ao perímetro do Castelo de S. Jorge no dia 9 de Agosto de 2014.

O Roteiro iniciou-se no Chão da Feira (em frente à entrada do Palácio Belmonte) e terminou no Largo das Portas do Sol, percorrendo o Pátio de D. Fradique, a Rua dos Cegos, o Largo do Menino Deus, o Largo Rodrigues de Freitas, a Costa do Castelo, a Rua Milagre de Sto. António, o Largo dos Loios, a Rua das Damas, o Largo do Contador Mor e a Travessa de Santa Luzia.

As fotos foram obtidas sequencialmente no percurso e representam duas visões deste roteiro.

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A primeira colina de Lisboa
(Parte 2 de 2)

Para ver as fotos prima AQUI



A Cerca Moura

Lisboa, protegida do oceano, mas a ele ligada por águas tranquilas do largo estuário do Tejo, com elevações e vales férteis, de clima ameno, foi cobiçada por vários povos que invadiram e lutaram pela sua ocupação, assumindo-se como uma área de atracção da ocupação humana dada a sua localização estratégica e relação com o rio. Tais batalhas levaram à construção de muralhas, por sucessivos povos, que a defendesse de outros invasores. Assim, a história da “Cerca Moura” ou “Cerca Velha” confunde-se com os séculos de batalhas travadas.

A “Cerca Moura” inicialmente associada aos muçulmanos é, segundo duas arqueólogas do Museu da Cidade (Câmara Municipal de Lisboa), que chegaram a esta conclusão aquando das obras na colina do castelo, obra de construção romana. Ou é possível que os seus destroços tenham sido aplicados, por povos que se seguiram à ocupação romana, na fortificação que rodeavam as áreas habitadas, como sistema de defesa, protegendo-as das surpresas dos inimigos. Assim, pode ter tido origem a “Cerca Moura”ou “Cerca Velha”, muralha que servia de proteção a Lisboa, adoptada pelo povo islâmico, após a conquista da cidade, em 719. 



  
A Cerca Fernandina

A Cerca Moura de Lisboa havia perdido a sua função defensiva e não conseguiria conter o crescimento populacional e, inevitavelmente, seria absorvida, servindo de parapeito para o alastramento urbano que se verificou no sentido do rio. Os muros foram então demolidos, numa boa parte da sua extensão, de modo a permitir a construção de residências junto à praia. Lisboa, após a reconquista, era constituida por um aglomerado de comunas: fora da muralha, as Judiarias, a Mouraria, e três outras cristãs, a de Santa Justa e Rufina, a do bairro de São Vicente de Fora e uma quarta, a cidade de serviços, dentro da muralha, que surgiu com a reconquista.

Uma nova cerca se impunha, mandada construir por D. Fernando, em 1373, com 101 hectares de área, capaz de abranger a realidade da população da época, que contava com 65 mil habitantes. Rapidamente construída, ante ameaças de guerra com Castela, em dois anos estavam de pé os 5 400 metros de muralha e as suas 77 torres e 38 portas. A construção da “Cerca Fernandina” partiu da iniciativa das diferentes comunas e dos seus conventos, devido ao seu isolamento geográfico e de modo a assegurar a sua protecção em consequência de algum ataque invasor. Deste modo procedeu-se à construção da cerca, por parte da população e religiosos dos conventos dos vários núcleos, sob orientação dos militares do Rei D. Fernando. Por ter sido erguida por comunidades diferentes, com culturas diferentes, as características da sua edificação variam quanto aos materiais utilizados e quanto às técnicas de construção. O material usado para erguer o lanço que protegia a área muçulmana foi a taipa, enquanto que parte da cerca que se encontra no Bairro de Santana, construída por cruzados, é de blocos de pedras. 

A nova muralha define uma cidade diferente da que ficava no interior da Cerca Moura ou Velha. Na nova Lisboa coabitam várias entidades, englobando não apenas as duas Judiarias mas também a Alfama, a Mouraria e as comunas cristãs moçárabes. O crescimento da cidade foi mais acentuado a poente que a nascente, de forma mais qualificada do ponto de vista funcional e social, surgindo como polo de concentração do comércio e indústria mais significativa, bem como os principais equipamentos públicos. A Lisboa “Fernandina” era uma cidade de produção e comércio, onde as comunas Judaicas desempenhavam um papel muito importante de controlo do sistema portuário, tornando subsidiárias outras comunas. A muralha da Cerca de D. Fernando não teve a mesma solidez da muralha Moura. E o aparecimento de novas armas de guerra e novas ideias sobre a fortificação das cidades tornou-a obsoleta e inútil para a defesa de Lisboa. E tal como sucedera com a “Cerca Moura”, a “Cerca Fernandina” perderia a sua missão defensiva. Seria arruinada em lanços e portas, ladeada e absorvida por novos edifícios e inclusivé demolida em grande parte da sua extensão.

Fonte: Geologia Augusta  

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