terça-feira, 5 de março de 2024

NÃO COMER CABRITO NO DOMINGO DE PÁSCOA

No antigamente o pão era cozido em fornos de lenha


HISTÓRIAS DE ANTANHO

(História número 5)


Introdução Permanente


No período compreendido entre 1945 e 1968 a cidade de Lisboa era bem diferente dos tempos de agora.


A relativamente pouca distância do centro da cidade de Lisboa, ficava o Martim Moniz, bem diferente do atual e a partir do qual se iniciava a Rua da Palma, logo continuada pela Avenida Almirante Reis, paralela à Rua do Benformoso que, por sua vez, terminava no Largo do Intendente, onde começava a Rua dos Anjos que atravessava a Avenida Almirante Reis e terminava no Largo de Santa Bárbara.


Este era o espaço (onde vivi) e as HISTÓRIAS DE ANTANHO se irão essencialmente localizar e a partir do qual outros espaços irão ser referidos no contexto de um ambiente humano muito peculiar.


NÃO COMER CABRITO NO DOMINGO DE PÁSCOA


Admirem-se os jovens de hoje quando lhes revelar que antigamente, há muitos muitos anos, o pão era feito nas padarias e cozido maioritariamente em fornos de lenha.


Nesses espaços o pão era feito durante a noite e uma parte colocada à venda no próprio local e outra distribuída porta a porta.


Distribuição de pão porta a porta

Em Lisboa, os distribuidores, por norma também eles padeiros, que após o fabrico percorriam, muito cedo, utilizando algum meio de transporte (bicicleta, triciclo, carroça) ou então a pé, a zona onde a padaria se localizava para vender, a clientes pré definidos, o pão que nessa madrugada tinham feito. Os que se deslocavam a pé tinham um trabalho mais cansativo, pois transportavam ao ombro grandes cestos de verga com um enorme carrego de pão dos mais diferentes tipos,


De memória ou guiando-se por um caderninho lá iam de porta em porta, subindo a terceiros, quartos e quintos andares para deixar o pão dentro de um saco de linho que se encontrava pendurado na maçaneta do lado de fora da porta.


Por vezes, no saco colocado no exterior da porta, havia um papelinho encomendando uma quantidade maior que a habitual ou algo diferente, como umas arrufadas ou pãezinhos de leite.


No fim da semana o padeiro deixava um papelinho com a conta do pão que tinha entregue na semana anterior e no dia seguinte o cliente colocava o dinheiro no saco que o padeiro recolhia.


O sistema funcionava e nunca me constou que houvesse furtos, já de pão, já de dinheiro.


As padarias não só fabricavam e distribuíam o pão como prestavam também um serviço de apoio à comunidade como adiante referirei.

Fogão a petróleo


Naquela época, na zona onde residia, não eram muitas as casas que tinham fogões com fornos. O que havia era, na maioria das vezes, fogões a petróleo. Esses fogões eram constituídos por 3 partes distintas: na base um depósito que continha o petróleo; saindo do depósito uma “cabeça” onde se colocava álcool desnaturado (que servia para dar início à combustão) e uma trempe (grelha) sobre a “cabeça” onde se colocavam as panelas, tachos, etc. Com o álcool desnaturado a arder na "cabeça" do fogão, dava-se à bomba através de um manípulo colocado no depósito para fazer subir o petróleo que passava através de um orifício (o "bico") e, com a chama do álcool, a combustão do petróleo dava-se. A intensidade da chama era tanto maior quanto mais bombadas fossem dadas. Às vezes o “bico” entupia-se e era necessário substituí-lo ou  desentupi-lo com um arame muito fino (um espevitador).


Não sendo estes fogões apropriados para fazer assados, como é evidente, o recurso de muitas famílias, principalmente na Páscoa, era recorrer ao forno do padeiro. E era então que a padaria se tornava um apoio importante à comunidade.


 
Igreja do Sagrado Coração de Jesus e Maria imaculada
Rua Capitão Renato Baptista

A padaria de que a minha família era cliente ficava na Rua capitão Renato Baptista, quase em frente da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e Maria Imaculada, inaugurada em 1910, com fachada em estilo neogótico. “A capela-mor ostentava as imagens dos patronos, uma pintura da Última Ceia, encimada por um Calvário, e tribunas laterais. No tecto e nas paredes, algumas pinturas com temática eucarística. De referir a torre sineira, nas traseiras do edifício, que albergava um carrilhão com 15 sinos”.



Calçada Conde Pombeiro na confluência com a Rua dos Anjos
Ainda se veem os carris dos eléctricos que à época ainda por ali circulavam

Da casa onde morávamos até à padaria era necessário subir a Calçada Conde Pombeiro e depois virar à esquerda para a Rua Capitão Renato Baptista. Um percurso com uns 500 metros e sempre a subir.


Se para uma mulher dos seus trinta anos e para um miúdo irrequieto já era custoso atravessar uma rua movimentada (onde ainda passavam electricos), subir uma calçada e depois percorrer uma rua também com alguma inclinação, imaginem, agora, a dificuldade adicional dos mesmos, transportando uma enorme travessa de barro, contendo um cabrito, com batatas e cebolinhas, coberta com uma pano de linho.


Mas, o transporte para a padaria era o mais fácil do mais difícil. O difícil era combinar com o padeiro a hora a que o forno estaria disponível, pois era, principalmente na Páscoa, muitos os que queriam utilizar o forno. E um cabrito demorava muito tempo… Às vezes, não muitas, devido ao forno estar superlotado, o cabrito que era para ser comido no Domingo de Páscoa tinha que ficar para o Domingo seguinte.



No regresso, quando se ia buscar o cabrito, já assado, a aventura era mais emocionante. Descer a Calçada Conde Pombeiro, com um tabuleiro grande e quente, embrulhado em panos e jornais, era arriscar uma queda espectacular, principalmente com um miúdo que não parava quieto.


Sem cabrito na mesa porque o forno da padaria estava lotado

Hoje, no aconchego das nossas casas, é tão fácil assar um cabrito! Naquela época, assar um cabrito exigia uma programação eficiente para nos não metermos em assados. Se falhássemos a programação arriscávamo-nos a... não comer cabrito no Domingo de Páscoa.


LEIA TAMBÉM (Clique no título):

COMO O MEU AVÔ SALVOU UM HOMEM (E depois se arrependeu?)

- O XÉ-XÉ

- A MULHER DA BANHA DA COBRA

- A ÁGUA MIRACULOSA



CRÉDITOS:

01ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Nagumo.com”

02ª Foto – Autor: Joshua Benoliel no espaço “AML” (Lisboa de Antigamente)

03ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Oportunity”

04ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Google”

05ª Foto – Autor: Machado & Souza no espaço “Lisboa de Antigamente”

06ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Receitas e Menus”

07ª Foto – Autor: Inteligência Artificial


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A ÁGUA MIRACULOSA

 

A Taça do Intendente - Largo do Intendente - Lisboa

HISTÓRIAS DE ANTANHO

(História número 4)


Introdução Permanente


No período compreendido entre 1945 e 1968 a cidade de Lisboa era bem diferente dos tempos de agora.


A relativamente pouca distância do centro da cidade de Lisboa, ficava o Martim Moniz, bem diferente do atual e a partir do qual se iniciava a Rua da Palma, logo continuada pela Avenida Almirante Reis, paralela à Rua do Benformoso que, por sua vez, terminava no Largo do Intendente, onde começava a Rua dos Anjos que atravessava a Avenida Almirante Reis e terminava no Largo de Santa Bárbara.


Este era o espaço (onde vivi) e as HISTÓRIAS DE ANTANHO se irão essencialmente localizar e a partir do qual outros espaços irão ser referidos no contexto de um ambiente humano muito peculiar.


A ÁGUA MIRACULOSA



Associação do Registo Civil - Largo do Intendente - Lisboa

Nos tempos de antanho o "LARGO DO INTENDENTE", situado entre o fim da Rua da Palma e o início da Avenida Almirante Reis proliferava de vida. Vendedoras de hortaliça e de peixe e de outros produtos; carros, caminhetas, burros, cavalos; moços de fretes, propagandistas da “banha da cobra”. Por ali havia fábricas, olarias, palácios e até um liceu. Uma azáfama que começava de madrugada e se prolongava noite dentro. De fábricas ainda lá está o edifício da Viúva Lamego. As olarias desapareceram, contudo, em 1955, existia uma já fora do Largo, junto do Hospital do Desterro.


No Largo do Intendente é historicamente importante referir a existência da “Associação do Registo Civil”, fundada pela Maçonaria, em 5 de Agosto de 1895, porque de entre os milhares de associados se contavam Manuel dos Reis Buíça e Alfredo Luís da Costa, a quem a História consignaria o epíteto de regicidas.


    
 
Palácio do Intendente Pina Manique - Largo do Intendente - Lisboa

Eram notáveis os dois palácios que se localizavam no Largo: o Palácio da Viscondessa da Graça e o Palácio de D. Diogo Inácio Pina de Manique, Intendente Geral da Polícia, que por ali residir deu o nome ao local: Largo do Intendente.


 
Chafariz do Intendente
Localização inicial (Largo Intendente) Localização actual (Calçada do Desterro)

Já o Chafariz do Intendente, abastecido por uma galeria que saía do Aqueduto das Águas Livres, também localizado no Largo do Intendente, junto à Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego é, posteriormente, transferido para a confluência da Rua da Palma com a Avenida Almirante Reis, mesmo na esquina com a Calçada do Desterro onde ainda se encontra.


Bebedouro do Intendente - Largo do Intendente - Lisboa

Um bebedouro (personagem central desta história) que servia para os animais (cavalos, mulas e burros) se dessedentarem e que era também conhecido como “Taça do Intendente” devido à sua forma, encontrava-se (e encontra-se) quase no centro do Largo e a pouca distância da Rua do Benformoso.


Bebedouro do Intendente (Pormenor) - Largo do Intendente - Lisboa

No centro desse bebedouro brotava um jorro de água sulfatada cálcica que mantinha permanentemente o receptáculo cheio sendo o excesso expelido por uns orifícios gradeados colocados na periferia da taça.


Bebedouro do Intendente (A Taça) - Largo do Intendente - Lisboa

Esta água tinha fama de curar problemas de estômago, fígado, rins, bexiga e facilitar as digestões o que não era clinicamente comprovado. Contudo, ao entardecer e nas noites quentes de verão viam-se mulheres, acompanhadas pelos maridos, irmãos ou filhos, a encher garrafões com aquela “água miraculosa”. Para o efeito formavam-se bichas (vocábulo que prefiro a filas) com dezenas de pessoas aguardando, com algumas discussões pelo meio, o acesso à água. Para obter a água usavam-se canas cortadas ao meio (posteriormente substituídas por artefactos metálicos) que eram colocadas desde o centro do bebedouro onde a água brotava até à periferia da taça permitindo assim recolher, facilmente e sem esforço, a água para os garrafões.


Imagem fictícia da minha tia e de mim criada com a "Inteligência Artificial"

Uma tia minha, que eu em criança acompanhava à “água do Intendente”, “odiava” aquele trabalho que a fazia deslocar-se desde quase o Largo de Santa Bárbara até ao Largo do Intendente (cerca de 1 quilómetro) e regressar com o peso de dois garrafões de 5 litros cada (cerca de 10 quilos) cheios daquela “água miraculosa” para satisfação do meu avô. Um trabalho que executava 2 e às vezes 3 vezes, por semana.


Até que um dia…


Nessa noite chovia. E lá fui eu mais uma vez com a minha tia a caminho do Largo do Intendente. No entanto, dessa vez, a primeira de muitas, a rotina foi alterada. Mal saímos de casa a minha tia, ao invés de prosseguir na direcção do objectivo, entrou na leitaria da esquina (que hoje chama-se café), cujo proprietário nos conhecia e pediu para encher os garrafões com água da torneira. Pedido satisfeito. Aguardámos algum tempo, uma meia hora e depois regressámos a casa.


Nessa semana e noutras que se seguiram, não todas, a cena repetiu-se. O meu avô regozijava-se clamando que a água lhe fazia cada vez melhor. E eu, contentíssimo da vida, “rezava a todos os santinhos” para que o meu avô só bebesse da “água del cano” porque, nesses dias, tinha sempre direito a um rebuçado na leitaria da esquina.


Alguns anos mais tarde a ida à “água do Intendente” acabou, talvez porque aquela “água miraculosa” já não parecesse fazer efeito, ou porque a minha tia se recusasse a continuar a servir de aguadeira do pai ou por qualquer outra razão.


Mais tarde, em data que não posso precisar, por razões sanitárias, a Câmara Municipal de Lisboa desactivou a “Taça do Intendente” cuja “água miraculosa” muita gente acreditou ter sido a cura para as respectivas maleitas.


Aquela foi uma época em que as crendices proliferavam, os conhecimentos sanitários eram quase nulos entre a população, o acesso aos médicos era difícil porque eram caros (não havia Serviço Nacional de Saúde) e que as mezinhas (como a “água do Intendente”) eram a solução possível e à “mão de semear”.

Para mim foi uma boa época: nunca chupei tantos rebuçados! 



 
LEIA TAMBÉM (Clique no título):

COMO O MEU AVÔ SALVOU UM HOMEM (E depois se arrependeu?)

- O XÉ-XÉ

- A MULHER DA BANHA DA COBRA



CRÉDITOS:

01ª Foto – Autor: Arnaldo Madureira no espaço “AML”

02ª Foto – Autor: Joshua Benoliel no espaço “AML”

03ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Cidadanialx”

04ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Cidadanialx”

05ª Foto – Autor: José Arthur Bárcia no espaço Arquivo Fotográfico da “CML”

06ª Foto – Autor: Eduardo Portugal no espaço “AML”

07ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “As fontes da Minha vida”

08ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “As fontes da Minha vida”

09ª Foto – Autor: Inteligência Artificial

10ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Casa Januário”





terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

A MULHER DA BANHA DA COBRA

 


A Mulher da Banha da Cobra

HISTÓRIAS DE ANTANHO

(História número 3)


Introdução Permanente


No período compreendido entre 1945 e 1968 a cidade de Lisboa era bem diferente dos tempos de agora.


A relativamente pouca distância do centro da cidade de Lisboa, ficava o Martim Moniz, bem diferente do atual e a partir do qual se iniciava a Rua da Palma, logo continuada pela Avenida Almirante Reis, paralela à Rua do Benformoso que, por sua vez, terminava no Largo do Intendente, onde começava a Rua dos Anjos que atravessava a Avenida Almirante Reis e terminava no Largo de Santa Bárbara.


Este era o espaço (onde vivi) e as HISTÓRIAS DE ANTANHO se irão essencialmente localizar e a partir do qual outros espaços irão ser referidos no contexto de um ambiente humano muito peculiar.


A MULHER DA BANHA DA COBRA


Largo do Intendente - Lisboa


No "LARGO DO INTENDENTE" uma água sulfatada calcária alimenta um bebedouro, junto ao qual, periodicamente, uma mulher cinquentenária, de cabelos hirsutos, desgrenhados, de pé sobre um caixote de madeira, se dirigia ao povo que afluía para a ouvir.


                                    Cerâmica Viúva Lamego - Largo Intendente - Lisboa

Um pouco afastados, os Moços de Fretes, parados estrategicamente junto das carroças e das poucas caminhetas que aguardavam ser contratadas e, também, por perto da Cerâmica Viúva Lamego, esperavam ser “alugados” para algum carrego ou mudança, já não ligavam ao que a mulher dizia de tão frequentemente a ouvirem.


Moços de Fretes - Lisboa


(Moços de Fretes, também conhecidos como galegos, tinham como actividade transportar às costas ou em padiolas, todo o tipo de cargas. Providenciavam também o transporte de mobílias de casa para casa acondicionando-as em carroças ou caminhetas.)



A Mulher da Banha da Cobra

Do cimo do seu caixote de madeira a Mulher da Banha da Cobra usava os seus dotes de propagandista para juntar as pessoas em seu redor e mantê-las atentas e interessadas. Depois, com as atenções já captadas, oferecia-lhes o famoso Bálsamo, a milagrosa Pomada, o fantástico Unguento ou, mais prosaicamente, a Massa de Curandeiro. Resumindo: A Banha da Cobra.


(Banha da Cobra: Era feita, quando o era, a partir de teriaga, uma exótica mistura de plantas medicinais com ópio e carne de cobra)


Esta pomada, assegurava a Mulher da Banha da Cobra, curava tudo e mais alguma coisa. Desde calos a pneumonias, de infertilidades a impotências, de dores de cabeça a faltas de apetite.


A Mulher da Banha da Cobra, depois de relatar as virtudes do produto e dar múltiplos “exemplos” de curas milagrosas e considerar que os ouvintes estavam “conquistados”, avançava para a venda propriamente dita.


O produto (dizia ela) era vendido quase gratuitamente… era, dizia com veemência, oferecido, porque só queria o bem de todos. O preço, esclarecia, não comprava uma só caixa de unguento, mas duas e, ainda, aos primeiros 20 compradores, pelo mesmíssimo preço, ainda oferecia uma outra caixa. Três caixas de pomada pelo preço de uma, dizia naquele tom de voz próprios dos feirantes. Só o fazia (continuava ela a proclamar), por gostar daquele bairro e das pessoas que ali viviam pois quase não ganhava nada ao “dar” 3 caixas pelo preço de uma. Mas, há mais, gritava a plenos pulmões a Mulher da Banha da Cobra: com as três caixas ainda oferecia um pente especial para o fortalecimento do cabelo, um pano único para uma boa aplicação da pomada e, ainda, a imagem do Dr. Sousa Martins, para que do além lhe garantisse a cura.


Sousa Martins - Campo Santana - Lisboa

(As capacidades de curas miraculosas, que foram atribuídas ao Dr. Sousa Martins ainda em vida, estendem-se para além da sua morte. Sendo chamado a intervir, como se de um santo católico se tratasse, recebe os agradecimentos dos crentes que em datas de aniversário do seu nascimento ou morte, lhe  prestam  homenagem. Nessas ocasiões assistem-se a romarias, em Lisboa ao monumento de que falamos ou ao cemitério de Alhandra onde repousam os seus restos mortais, mantendo o culto vivo mesmo 120 anos após a sua morte a 18 de Agosto de 1897.)


Mas, nada era deixado ao acaso. Na assistência circulavam um ou dois parceiros a fingirem-se interessados e, no momento em que os basbaques pareciam hesitar e até desmobilizar, avançavam de peito feito para realizar as mobilizadoras (e fingidas) primeiras compras. Algumas vezes, enquanto compravam, falavam para os putativos compradores elogiando o produto, dizendo que não era a primeira vez que o usavam e que estavam quase curados da dor na perna, ou da tosse irritante, ou das cólicas intestinais ou de qualquer outra maleita.


E as pessoas compravam e compravam e compravam. Não só os que estavam doentes como os que se queriam prevenir de presumíveis futuras doenças. Porque, naquela época, não havia Serviço Nacional de Saúde e ir ao médico era só para ricos.


Esta técnica de vendas, não obstante ainda ser um adolescente, era fascinante.




Pavilhão das Panelas - Feira Popular - Lisboa

Recordo, então já um jovem, assistir a uma técnica semelhante na antiga Feira Popular, no Pavilhão das Panelas, onde se sorteavam conjuntos de 6 e 8 panelas de diversos tamanhos.


Presentemente a mesma técnica de vendas é usada nas televisões generalistas portuguesas.


                          Nos primórdios da Televisão - Também havia publicidade

No pequeno écran vê-se um representante do produto a apresentá-lo acolitado por algum conhecido apresentador televisivo o que, de alguma forma, dá credibilidade ao produto. Depois, não é só uma caixa desse produto que é “oferecido, mas mais duas ou três pelo mesmo preço e, ainda, oferecem uma caneca ou um copo ou qualquer outra coisa. E aos primeiros 50 que ligarem para o número “x” ainda fazem um desconto.


Não, não estou a pôr em causa a qualidade dos produtos que assim são vendidos nas televisões, mas tão somente a comparar a técnica de vendas usada antes e a usada agora. Uma técnica semelhante à que se usava há uns 60 anos, embora adaptada à realidade tecnológica e à mentalidade do presente.


A substância da técnica de vendas mantém-se idêntica à do passado; a forma como se processa, actualizou-se.



LEIA TAMBÉM (Clique no título):

COMO O MEU AVÔ SALVOU UM HOMEM (E depois se arrependeu?)

- O XÉ-XÉ



CRÉDITOS:

1ª Foto – Autor: Inteligência Artificial.

2ª Foto – Autor: Eduardo Portugal no espaço de “Lisboa de Antigamente”

3ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço de “Ruas de Lisboa com alguma história”.

4ª Foto – Autor: Joshua Benoliel no Espaço de "Bic Laranja"

5ª Foto – Autor: Inteligência Artificial

6ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Lisboa – Directório de Contactos”

7ª Foto – Autor: Mário Novais no espaço “Imagens com História da Wordpress”

8ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Designe Culturetv”